12.11.09

Ícaro ocaso.

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ÍCARO OCASO
Felipe da Fonseca
Multifoco, 2010
70 páginas
R$ 30,00







"Impressiona a maturidade do autor, já em sua obra de estréia, nos versos não raro embebidos de uma serenidade que só os anos ou a larga experiência das coisas conferem ao fazer poético. As vísceras e o desmedido dão lugar a um labor artífice dos mais habilidosos, cuja elegância e precisão imagética evocam o lúcido encontro entre a composição e o fenômeno cotidiano.


Notável quão enxutos e densos são seus poemas a um mesmo tempo. Até os mais sucintos, dispostos em tercetos, exibem a tensão tátil de um relacionamento à trois atado firmemente, como um verso só se fizesse apreender por seu sucessor. É a coesão em sua máxima completude.
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Nesta colcha de recortes vários, antigos preceitos ultra-românticos também são re-vistos pelo poeta e a debilidade anacrônica destes não foge à fina ironia de seu lirismo. Em 'mulher que vi', a figura feminina idealizada ganha os contornos do ridículo. Aqui, o amor se realiza – os sapatos foram deixados à porta e a musa tem as marcas dos dedos plantados no dorso para prova-lo.
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Ícaro ocaso transcende a moralina arquetípica para contemplar a pós-queda, o declínio do sol e, com ele, a ambição tombada que, nestas páginas, suscita a impressão de grilhão recém-partido. É com os estigmas do tombo ainda nos músculos que o autor pontua a transitoriedade e celebra no comedimento deliberado a latitude etérea do vôo.
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Com os inúmeros recursos de que se utiliza, inclusive o visual, Felipe da Fonseca dá mostras de haver bebido das mais diversas fontes sem, contudo, esgotar-se no passado e requer 'mesa pra um / no lugar-comum', com todo direito a tê-lo. Sem dúvida, leitor, estamos diante de uma das vozes mais singulares e promissoras da novíssima poesia brasileira."